domingo, 21 de agosto de 2016

A Águia e o Morcego

A Águia e o Morcego Carlos Augusto de Araujo Jorge – 19/08/2016 Era uma linda floresta no meio do mundo, onde após muitos anos sob o comando de força do Leão, resolveu-se por um rodízio no comando. Assim foi feito e vários animais foram escolhidos para essa importante tarefa, só que dessa vez, eles só poderiam se manter no comando por até dois períodos. Foram eleitos: um elefante com uma exuberante memória, um jaboti, ali deixado por um grupo que achava que mandava na floresta, mas logo entregue às feras por este mesmo grupo ficando em seu lugar seu ajudante a cacatua, uma coruja metida a saber de tudo, um tigre muito esperto e bonachão e por último, uma águia que convidou o morcego para ajudá-la. Ganhou fácil para o primeiro período, mas para o segundo, em uma disputa ferrenha com o corvo, foi um pouco mais difícil. O corvo não se conformou e fez de tudo para “melar” a escolha, permanecendo na espreita para ver se acontecia algum vacilo. Os dias foram passando e a águia começou a enfrentar todo tipo de dificuldades, enfim, já haviam lhe cortado as asas, foi quando que a corvo e sua alcateia resolveram apelar para o rato, para que este arranjasse um jeito de afastar a águia do comando da floresta. Assim foi feito, só que precisava para afastar em definitivo, cumprir alguns requisitos. Primeiro, passar por uma reunião numa arena de animais mais fracotes, a reunião foi uma bizarrice só, uma papagaiada. Segundo, passar por outra reunião com bichos de maior prestígio, escolheram o papagaio, por falar muito e repetir o que os outros falam, para ser o responsável pelas queixas contra a águia. Teria que ser defenestrada nas duas. Na verdade, ninguém se contentava com as queixas, viam-nas como fracas e inconsistentes, mas a verdade é que precisavam tirar a águia dos seus caminhos, enfim ele via tudo e poderia atrapalhar muita coisa. Não a queriam voando... Representantes de outras florestas que também estavam encafifados com essa história, mandaram representantes de suas comunidades e constataram que tudo não passava de uma armação para afastar a águia. O corvo vez por outra se apresentava, vezes outras se escondia... O morcego foi tomando gosto e passou a tramar pela queda da sua parceira. Fez de tudo sem a menor cerimônia, buscou apoio em todo lado, inclusive no ninho dos urubus- rei. Lá tem uma forte hierarquia... Acontece que a medida em que a armação foi acontecendo, esta foi ficando clara na floresta. Os animais que até então não estavam satisfeitos com a águia, passaram a ficar ainda menos satisfeitos com o morcego, pois eles não admiram traidores. O morcego passou a ficar assustado com a reação dos animais, com medo mesmo, a ponto de andar escondido no seu coche, abaixadinho para ninguém ver. Tinha pavor de vaias... De quatro em quatro anos havia uma grande festa que reunia florestas do mundo todo. Ali, cada floresta disputava suas habilidades e este ano a escolhida sediar a festa, foi a floresta tropical onde o morcego teimava em tomar o poder. E na festa de apresentação o que fazer? O morcego morria de medo de vaias, queria se esconder, mas tinha que declarar a abertura da festa, assim mandava o protocolo. Buscou conselhos de toda parte até que um grilo o aconselhou a ficar escondidinho e só aparecer para declarar o início da festa. Assim foi feito, não foi anunciado, sequer citado nos discursos dos outros animais. No fim dos discursos e sem aparecer na arena, usou apenas da formalidade para dar como aberto o evento, tinha que ser ele. Mas, de nada adiantou o estratagema, seguiu-se uma estrondosa vaia. Ficou passado e decidiu que não irá a festa de encerramento, mandará o ouriço representá-lo. Quer terceirizar as vaias... Já a águia que na verdade, participou do grupo que conquistou a vinda do evento para a sua floresta, bem como não mediu esforços para que acontecesse com toda qualidade e beleza, resolveu que não iria. Entendia que indo, estaria legitimando o morcego e suas artimanhas. Não era medo de vaias, até porque já as tinha enfrentado dois anos antes. Eis que se aproxima o dia da cartada final, estará selado o processo do afastamento da águia em definitivo, o que se dará na arena dos bichos de maior prestígio. Tudo indica que ela será abatida... Só que ela resolveu estar presente para olhar nos olhos de cada um dos bichos ali presentes, se expor, fazer sua defesa e mostrar a todos os animais, de todas as florestas, que é um animal de fibra e de coragem e não tem o que esconder, tampouco o que temer.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Cidadania e Liberdade

Cidadania e Liberdade Carlos Augusto de Araujo Jorge – 29/07/2016 Cidadania remete à participação plena e usufruto de uma cidade. De como a cidade se organiza, se movimenta, o que oferece, onde oferece e como oferece. Como participar de todo processo, através dos impostos e de como usufruir de seus serviços, seja na educação, na saúde, na cultura, no lazer, na segurança pública...enfim, em tudo o que uma cidade ou estado tenha a oferecer. A cidade se organiza, ou deve se organizar, tendo em conta os desejos de seus moradores e para tal leva aos mesmo através de seus agentes políticos, partidos e candidatos, projetos que são ou não aprovados por intermédio de consulta pública, eleições. Os projetos são apresentados, discutidos e aprovados ou rejeitados. A todo esse processo de preparo, apresentação, discussão e eleição dá-se o nome de política, a rigor, uma nobre missão que quando levada a sério, se traduz em benfeitorias e desenvolvimento, com repercussão na vida de cada pessoa, cada cidadão ou cidadã. Quando não, se instala toda sorte de desmandos, da corrupção ao autoritarismo, que não raro se confundem. A Política, com “P” maiúsculo se dirige a todos e a política com “p” minúsculo à poucos. Não menos grave é se negar a respeitar a vontade do eleitor, quer seja enganando-os com falsas promessas, quer seja imprimindo projetos e ações que sequer foram discutidas e as que foram, foram por eles rejeitadas. No primeiro senão, chamado estelionato eleitoral, tornou-se um lugar comum na política brasileira, mais ou menos intenso, dependendo da disputa. Qual candidato que não tenha prometido educação pública em tempo integral e de qualidade com professores bem pagos? Qual o candidato que não prometeu saúde pública de qualidade e acessível para todos? Qual candidato que não prometeu livrar os pobres da chamada e tão decantada inflação? Qual candidato que não prometeu segurança pública, dar fim ao chamado crime organizado? Já houve até quem limitasse no tempo, seis meses. Isso é triste, é feio e precisa acabar. Agora torna-se mais grave quando se desconsidera o já discutido e desaprovado pela população e, por uma questão de oportunidade má oportunidade, oportunismo, se impõe à sociedade sem uma nova discussão um novo processo eleitoral, um novo pleito, como manda a regra, a Constituição. Não, só não cumpre o prometido, como executa o que foi rejeitado. Chancela-se um golpe, e esse é real quando e onde, se desconsidera a democracia, nega-se a discussão, a disputa e o que dela resultou... E a Liberdade é a ampla e plena discussão, participação e acompanhamento do processo político, onde todas os matizes ideológicos tenham o mesmo espaço, partidos e estes, se apresentem aos cidadãos em busca de quem comungue de suas idéias e de seus interesses, correligionários. Onde todos tenham a garantia do respeito e principalmente, onde o vencedor seja magnânimo e o perdedor saiba perder. Reconheça-se o direito de quem ganha e respeite-se o esforço de quem perde. Do contrário, é golpe é sabotagem, é desonestidade...

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A Criança na Internet

A criança na Internet Carlos Augusto de Araujo Jorge – 30/10/2015 Circula na internet uma postagem de uma criança de 7 anos numa escola, em aparente crise de agitação e agressividade destruindo objetos e livros, bem como arremessando-os em funcionários, talvez professores. Embora à distância e me valendo de tais imagens não poderia deixar de fazer alguns despretensiosos comentários. Não tentarei um diagnóstico da criança, não tenho condições de fazê-lo pelas imagens, dava impressão de estar descontrolada e muito irritadiça. Primeiramente quero deixar claro que achei a postagem irresponsável e, mais ainda, os comentários subjacentes, superficiais, quando não, carregados de raiva e ódio. Enfim sem querer crucificar os professores que, tal qual a criança, considero vítimas de um sistema educacional inadequado e perverso que os expõem a um dia a dia de gratas ou ingratas surpresas, sem que lhes sejam oferecida a menor condição de enfrentamento. Por diversas vezes já postei, aqui mesmo, que da forma como a escola se apresenta hoje, mais exclui do que inclui. Não ensina e sequer desperta a curiosidade de aprender de nossas crianças. Ou se faz, e já, uma revolução nesse setor, ou será tarde demais. De há muito que o professor deixou de ser modelo para nossas crianças e muitas delas sequer modelos tiveram em suas casas. No caso em tela, o pai deixou a família e levou consigo um irmão do menor para a Bahia. É difícil se colocar no lugar de uma criança de sete anos com tal vivência...mas assevero é forte, muito forte. Mas vamos à postagem, digamos que os professores que a fizeram, o fizeram por estarem cansados de denunciar situações semelhantes aos seus superiores, secretarias, etc. etc.... sem que tenham obtido respostas. Posso até entender, mas não posso concordar. Uma criança de sete anos não pode ser exposta da forma como foi, até porque, volto a dizer, é vítima também. E não estou me prendendo à questão legal. Não se permitir um gesto de aproximação e continência, e não estou falando de contenção, que muito bem poderia ser esboçado, ao meu ver foi cruel. Alguém grita: “não toquem nele”! Sei que a orientação é não segurar o aluno, mas espera um pouco, se ele estivesse a ponto de se atirar de uma janela, no segundo ou terceiro andar, permitiriam? O bom senso precisa prevalecer... A própria mãe do garoto teria dito que ele se acalmaria com um abraço. Este é o problema, nesses momentos as pessoas não se permitem a um afeto: por cansaço, por desinteresse ou mesmo por temor. Volta a afirmar não estou crucificando os professores, eles precisam de ajuda e o estado, poder público, este sim, o grande (ir)responsável, nega. Turmas superlotadas e professores à própria sorte, sem qualquer apoio. Aqui ou acolá, um Assistente Social ou um Psicólogo para atuar em uma escola em crise. Um absurdo... E o que tal postagem começa a produzir? E imaginando não ter sido a intenção de quem a postou, assistimos uma enxurrada de mensagens eivadas de raiva e ódio. Não tem muito tempo diminuíram a maioridade penal para 16 anos, logo estarão advogando uma redução pra dez, para oito e para sete. Não demora advogarão o retorno dos “castigos físicos, da palmatória e dos caroços de milho”. Derramam sobre uma criança, sem a menor condição neuropsicológica de ser responsabilizada por seus atos, toda uma frustração e desencanto com suas vidas, seus insucessos e seus fracassos. Vivemos dias onde a intolerância tornou-se lugar comum e as pessoa agridem, uma aos outros, sem reflexão e por qualquer motivo. Agride-se idosos, homens e mulheres, por professarem religiões diversas das suas, por terem preferências, políticas, esportivas e sexuais diferentes, queimam-se índios, matam-se mendigos e lincha-se adolescentes que praticam atos infracionais, como se fosse normal tudo isso. Há quem não só desculpa, com elogia àqueles que buscam fazer “justiça” pelas próprias mãos. Aonde iremos parar? Não acho isso um caso isolado, me preocupa e muito o mundo que pretendemos deixar para os nossos netos. Não foi uma nem duas, nem dez mensagens de raiva contra a criança. Foram inúmeras e em todas ressurgia com intenso vigor a triste ideologia da correção e da disciplina, à custa do castigo e da repressão, de triste memória. Sou médico, sou psiquiatra, sou pai e sou avô. Dei limites sim aos meus filhos, mas jamais faltei com carinho e com amor. Em algumas ocasiões precisei me igualar a eles, sem me diminuir. E com meus netos aprendi muito mais... Na minha vida profissional comecei como psiquiatra infantil e carreguei nos ombros, como brincadeira de cavalinho, muitas crianças psicóticas, num tempo em que se dizia que elas recusavam o contato. Não, não conheci isso, sequer me preocupei. Aprendi que o afeto era o motor do encontro, o combustível da verdade. Brinquei muito com estas crianças no antigo Hospital de Neuropsiquiatria Infantil do Engenho de Dentro, depois Unidade Hospitalar Vicente de Paula Rezende, homenagem ao saudoso professor que muito me ensinou. Tive ainda a felicidade de ter sido aluno e amigo de Nise da Silveira e com ela ter aprendido muito sobre o afeto catalisador. Que Deus, ilumine os professores, proteja essa criança e dê juízo aos governantes...

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Sem lenço e sem documentos

Sem lenço e sem documentos “Toda criança que esteja em um ônibus, com trajes de praia, isso é: de calção, sem camisa e chinelos de dedo, sem dinheiro nem documentos nos fins de semana, será recolhida a abrigos da prefeitura...” anunciam as autoridades. Tem mais, esses ônibus são os que vem da zona norte ou do subúrbio. Terrível constatação: em pleno século XXI, algo como a “Lei da Vadiagem” para menores; menores da periferia, entra em vigor. Se por um lado assistimos à peregrinação de um homem em busca da paz, da igualdade, da tolerância, dos valores do homem, do humano acima dos bens, por outro, assistimos uma reprodução de atos e atitudes no caminho inverso. Ódio, intolerância, preconceito e mesquinhez. Aprova-se em uma comissão da Câmara dos deputados, uma definição de família, um conceito, que retrocede décadas e décadas. Um verdadeiro preconceito, enquanto desenha-se, com a usual ajuda de parte da sociedade e de uma imprensa caolha e preconceituosa, um novo perfil das crianças pobres de comunidades também pobres. E essas crianças vem de quais famílias? Têm famílias? Algum dia as tiveram? E é sobre família e suas crianças, que faço esta reflexão. Grande parte dessas crianças que são recolhidas por estarem sem camisa, sem dinheiro e sem documentos, com certeza não tiveram ou não têm qualquer laço saudável de família. Suas famílias, na sua grande maioria são a mãe, os irmãos... a rua. E quando não, o tráfico. Muitos nasceram em locais onde o código de sobrevivência é outro que não o nosso. E pasmem, são nossos vizinhos. Os valores não são os que assumimos e a lei é a do mais forte. Literalmente é a do mais forte: é uma para um e outra para o outro. O tempo não conta, muitos sequer sabem o que significa depois de amanhã, vivem o hoje com a expectativa única e exclusivamente do hoje. Sabe que acordou hoje, vai comer algo na próxima refeição e quiçá dormir. A obediência é impingida, ao mesmo tempo que é tênue, passageira. Desconhecem, em sua maioria, a figura paterna e a materna é extremamente frágil. Amam suas mães e reconhecem-nas como vítimas e impotentes. São essas pessoas que, segundo as autoridades e grande imprensa, ameaçam o lazer que a nossa Cidade Maravilhosa oferece aos outros, aos bem nascidos e com “família”. A violência e a miséria torna-os ágeis, espertos e com interesses muito imediatos. São autocentrados por defesa e desconfiados por necessidade, reativos, não admitem “covardia” com os seus pares. Entendem a sociedade pela ótica do que vivenciam no seu dia a dia, na relações perversas entre o crime e o estado e na não valorização da vida que constantemente bate às suas portas. Na escola, são os problemas, não são o sujeito, tornaram-se simples adjetivos. Não raro, a escola os repele, expulsa-os do seu convívio. Se algum professor tenta uma aproximação de uma forma diferente da usual, logo é questionado e repreendido. A organização da escola não existe para o aluno, ela existe para ela, a instituição escola. Os horários, o currículo...a disciplina. Sim, a disciplina... Como se organiza a “ordem”? E como esta é implantada e exigida? Pode-se supor que ainda exista castigo nos dias atuais? Pois é, existe. De certo, logo perguntarão se estou propondo uma zorra geral, um “bunda-lê-lê” nas escolas? Não! Proponho outra forma de se relacionar. Proponho acordos e pactos, estes sim, são fundamentais e têm muito mais utilidades que a figura do castigo. Não tenho qualquer problema em afirmar que boa parte desses alunos conhecem por castigo, outra coisa... É certo também que acordos e pactos não são possíveis em turmas com trinta ou quarenta pessoas. Há que se reduzir a turma para que as relações se deem entre pessoas, cada um com seu nome e sobrenome. E que também, não são apenas os professores que devem executar esta função. Outros atores são imprescindíveis! Essa escola que aí está, com certeza, não os entende, não os acolhe e não os atende. Sem querer pousar de romântico ou de ingênuo, quero deixar claro que sei perfeitamente que alguns trazem consigo defeitos em seu caráter, mas não só os de lá como os de cá também e, definitivamente, não são a maioria. Esta é a sociedade! Se os governos não forem ágeis e inteligentes o bastante, não sei onde chegaremos. Não importa se aumentará o gasto com a educação, já começamos a pagar um preço bem mais caro...Programas de transferência de renda, como o Bolsa família, não dão conta disso! Já assisti em uma escola, serem fechados os portões porque os alunos. Naquele dia, estavam fazendo bagunça, foram convidados a sair e os portões foram fechados. E o que ocorre? Essas crianças, foram impelidas a ficar nas ruas, expostas às suas vicissitudes e riscos. Aí eu pergunto: existe coisa mais normal do que crianças fazendo bagunça? Este caso me fez lembrar um episódio que ocorrera num fundação que eu presidia e que cuida de pessoas com deficiência. Sei que vou me repetir, mas vou contar. Lá existia um rapaz de seus dezesseis anos, por aí, com grave problema auditivo e que morava na rua no bairro do Flamengo. Nos foi encaminhado por uma moradora amiga. Também era muito estourado com alguns problemas de comportamento, acho até que era uma defesa para não sofrer violências na rua. Um belo dia, depois de um bate-boca com uma professora, a ameaçou de agressão. Foi levado à direção técnica e em reunião pedagógica decidiram por, além de desconvocá-lo do time da fundação, o que para ele era um senhor castigo, aplicar uma suspensão de alguns dias. Tudo bem, mas me intrigava uma coisa. Pedi para que marcássemos uma outra conversa onde perguntei aos professores, todos de muito bom nível e caráter, onde o rapaz iria cumprir a suspensão? O silêncio tomou conta do ambiente, pois nesse momento todos entenderam que a suspensão seria cumprida nas ruas e que o efeito pedagógico em relação à vulnerabilidade que o mesmo iria experimentar, seria nenhum. Voltando sobre o Homem da Paz. Este, Francisco, prega o acolhimento a todos, inclusive àqueles que por durante anos a fio eram proibidos de frequentar as igrejas e participar de seus sacramentos. Acolhe a todos independentemente de sexo, gênero, cor, e credo. Avança para a não condenação daqueles que, uma vez não conseguindo manter sua união conjugal vigorosa e com amor, se separam. Ama as crianças, principalmente as crianças perseguidas, fugitivas e sofridas; para ele, as pessoas mais importantes. Todos, todos...uma grande e amada família. Um verdadeiro pai.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Rua de minha Infância

Rua de minha infância A rua de minha infância, chamava-se Av. Dom Antônio Brandão, também conhecida como Avenida do Seminário. Uma avenida que para nós, a meninada, era enorme, quase sem fim... De um lado, tinha início na venda do Seu Lourival, e acabava na igreja do Seminário, e do outro, a mansão do vovô Beija, Benjamim de Medeiros, que apesar de não ser nosso avô o chamávamos assim, e se encerrava em um grande terreno baldio onde mais tarde foi erguido o Colégio Marista de Maceió. Ao meio, um grande passeio, um verdadeiro bulevar, todo arborizado de amendoeiras de várias qualidades e sabores: vermelha, roxa, branca... Como nos deliciávamos com sua saborosa polpa, embora fossemos alertados constantemente que poderíamos ter “Nó nas tripas”, uma doença que nos assustava e muito, talvez hoje uma obstipação intestinal. Também catávamos as frutas quando secas para, com a ajuda de um boa pedra, extrairmos amêndoas deliciosas que ficavam em seus caroços. Interessante como seus casas, em sua maioria majestosa e belas, para nós, guardavam características próprias, sejam por uma aura de mistério que nos intrigava, seja por fruteiras deliciosas que comportava. Após a venda do seu Lourival víamos a casa de dona Rosalva e de seu filho Claudio, o Feola. Tinha uma terceira e muito bonita casa cujo proprietário não consigo lembrar, aceito ajuda... Depois a casa do esquina, cor de rosa, da família Nogueira. Havia um planejamento de uma rua e ao atravessar, despontava a casa do Ciro Rocha, um palacete cor de telha onde existiam mangas rosa deliciosas. Seguia a casa do Dr. IB Gatto Falcão, personagem importante da história de nossa cidade, criador da Escola de Ciências Médicas de Alagoas, um exímio escritor e um grande médico. Pitoresca mesmo era a disputa travada com meus tios, também reconhecidos e admirados médicos, Ascânio Augusto de Araujo Jorge e Alberto Augusto de Araujo Jorge, Para não ser grosseiro, eu diria que eles não se admiravam! Um verdadeiro folclore no meio médico e universitário. Mas o que me intrigava era aquela casa que a nós não era dado o direito de conhecer, pois o muro não deixava vê-la, tampouco os portões, também altos, maciços e totalmente fechados. Víamos sim, um belo carro que sabíamos ser do referido Médico, que atravessava toda a avenida na companhia de uma mulher que despertava nossa curiosidade. Ali, para nós rolava algum mistério... Formávamos uma tropa de crianças curiosas e levadas. Depois da casa do DR. IB, vinha a casa de Dona Estela Pontes de Miranda, uma bela casa com uma bela e acolhedora varanda. Logo após, a do Seu Oscar Tenório seguida da casa de Dona Davina e sua parreira, sempre carregada de cachinhos de uva. A casa de tia Iolanda e sua enorme jaqueira, sua jaca era uma delícia e ainda servia de abrigo para jogarmos o nosso futebol, tinha ainda uma deliciosa pitangueira junto ao muro da casa vizinha, a casa de tia Celsa e seu delicioso pé de abil. Logo depois a da vovó Donana com um pé de carambola jamais visto por sua dimensão, tinha também pitombeira e os invejáveis pés de romã, dentre outras árvores frutíferas. Agora chega a nossa casa grande, bela e imponente, generosa e acolhedora como os meus queridos avós, Alexandre e Adélia, morávamos em sete famílias, cenário de muitas brincadeiras, almoços, festas e traquinagens... Naquela casa tinha a jabuticaba mais delicada e deliciosa que eu tenho conhecimento: fruto de dimensão pequena cor lilás, às vezes rajadas em preto e sua casca de uma maciez digna da tez de uma princesa. Sapotizeiros, cujo frutos, um verdadeiro mel. À noitinha nos fartávamos após a revoada de morcegos que faziam por derrubá-los. Brincávamos também de fazer Chicletes com a resina do sapotizeiro. Manga rosa, manga espada, e a manga que nós chamávamos “manga abacate” que loucura de textura e de sabor, nunca mais encontrei dela. Um quintal enorme com fruta-pão, coqueiros, mangueiras, cabia até umas vaquinhas que meu pai criava e o seu Lister, um cavalo que o conduzia ao encontro com os amigos para suas “farrinhas”. Em seguida vinha a casa de tio Aldo e suas goiabeiras, vermelha e branca e também um grande pé de fruta pão. Depois a casa de Seu Araujo, a casa do Pantaleão e o majestoso Seminário. Do outro lado lembro-me dos pés de amora da casa de vovô Beija, à época das frutas, o pé ficava pretinho, e como eram doces as amoras. Depois vinha a casa do Pe. Berckmen, a Primeira Igreja Batista do Farol, onde alardeava seus cultos através de um microfone que ficava preso no alto do prédio, ao que se seguia a casa de um amigo da família, Carlos Jorge, Cajó, um artista das lentes. Fez uma foto do velho Filó, morador da casa dos fundos de tio Pinheiro, talvez uma das fotos mais belas que já vi. Depois vinha mais uma casa dos Nogueira com um grande mangueiral. A casa do Professor Rosalvo Ribeiro, a casa do amigo Ricardo “Cabecete”, a casa de tia Delma com sua invejáveis jabuticabas “olho de boi”, e o pé de brinco de viúva que deixava nossas bocas tingidas de azul, contigua à sua casa, a casa de sua mãe, Tia Maroca e suas tias Mariná, Marinete, Marinita... Logo depois a casa do seu Torres onde jogávamos nossa pelada, a casa do doutor Quintela, um dos jardins mais bonitos de Maceió, dona Lalita adorava aquele jardim, e como se dedicava. Logo após a casa do Pinheirão nosso queridíssimo tio Pinheiro; a fartura de mangas era notável, não dá pra esquecer a famosa manga “Bunda de Pinheiro” (São Benedito), a manga espada e o manguito do fundo do quintal. Marcaram aquela casa e o nosso tempo. Quantas corridas do Pinheirão levamos... Depois vem a casa de Cleantho e Juanita, queridos primos e logo após a casa de tia Maria Helena que logo foi vendida a um grande e inesquecível amigo Dr. José Lima e dona Ruth. Essa rua também acolhia gente esquisita, pitoresca, e mesmo interessante, que convivia junto a todos sem descriminação e muito menos perseguições; alguns nos metia medo como o “Faixa Branca”, diziam que ele era tuberculoso e isso nos assustava. Por outro lado, tinha figuras como o “Enedino”, Seu “Ciço Prefeito”, “Filó”, “Batintin”, que tiveram participação no nosso processo educativo, vez por outra, em razão de uma “preguiçinha” nos estudos, escutávamos: “Se você não estudar vai ficar igual ao seu Ciço Prefeito, ao Enedino…” e assim por diante. Ali brincamos, ali crescemos e ali alinhavamos um carinho e uma amizade que perdura até os dias atuais entre todos nós. Irmãos, primos, amigos, todos...

sábado, 25 de julho de 2015

Recortes de Minha Memória

Recortes de minha memória Carlos Augusto de Araujo Jorge – 08/07/2015 Morávamos no bairro do Farol onde minha velha mãe com os seus noventa e um anos de idade reside até hoje. À época nossa casa situava-se na rua Alexandre Nobre 136, o nome da rua é uma homenagem ao meu avô materno, Alexandre Ferreira Nobre, um próspero empresário local. Não o conheci, mas de todos que o conheceram sua representação era de uma homem bom e generoso. Conheci minha avó, Maria Adélia, uma doçura em feitio de gente. Ali passei boa parte de minha infância, minha adolescência e início de minha vida adulta, ocasião em que me mudei para o Rio de Janeiro. Tempo bom, rodeado de tios e primos queridos realimentamos em meios à variadas brincadeiras o nosso universo afetivo. Saudades daquele tempo... Dentre inúmeras lembranças, meu conhecido ímpeto glutão, me traz a mente esse episódio. Empurrando seu carrinho de mão lá vinha o vendedor de macaxeira, ele gritava: "olha a macaxeira novinha, enxutinha, é uma manteiga”, e seguia em frente, subia e descia a rua por duas vezes. Aqui chamam de aipim ou até, equivocadamente, de mandioca. Além da macaxeira, trazia consigo alguns sub produtos da mandioca, como goma e massa-puba. Logo atrás vinha o vendedor da camarões com seu cesto na cabeça, assentado em uma rodilha de pano, cuja função, além de abrandar o atrito em sua cabeça, penso que era de trazer uma certa estabilidade. Um cesto grande, redondo cheio de camarões vivos, camarão de água doce, uma delícia! Minha mãe sempre os comprava, mas com muita atenção escolhia os que estavam vivos. Os mortos, alguns poucos, deixava ao lado e o próprio vendedor os jogava, ou como ele mesmo dizia, "azunia" no lixo. O almoço se anunciava Camarão de água doce com mingau de massa-puba. Seu sabor, meio que caiçara, era e é, formidável. O camarão frito com cabeça, casca e tudo. Sua limpeza se dava por um apêndice que ficava logo acima do seu rabinho, ou melhor, que fazia parte do seu rabinho e que, ao ser puxado com maestria, trazia consigo uma "tripa" com sua sujeira, fazia-se também um corte com a retirada de parte da cabeça, e estava concluída a limpeza. O camarão estava tratado! Sal e bastante coentro, indescritível. O acompanhamento, mingau, era massa-puba, leite de coco, sal e muito coentro. O néctar dos Deuses!!! A mesa sempre cheia de comidas e comensais, não havia um dia que não almoçasse conosco um amigo, um primo, enfim alguém que estivesse ali por perto. Costumávamos dizer que mamãe fazia mágicas na cozinha, nunca avisávamos que iríamos levar alguém para o almoço, mas na verdade sempre chegava mais alguém e a comida bastava. E dona Lucinha ali estava, sempre acolhedora e bem humorada. Uma preciosidade!!! Hoje carregando sua herança, Síndrome de Machado Joseff e suas muitas limitações, D. Lucinha, minha doce e querida mãe, mantém o seu maravilhoso e santo humor.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Escandalópolis

Escandalópolis Era uma vez um país, em outro planeta, situado em outra galáxia, chamado República da Escandalópolis. Não era reino, tampouco império, se dizia uma democracia, democracia republicana. Seus governantes eram eleitos por votação direta e todos os eleitores, a partir e até uma certa idade, eram obrigados a comparecer no local de votação. Se vangloriavam de que lá a votação era livre, não sei se tão livres assim, pois sofriam forte influência do dinheiro e de grupos que se organizavam ordeiramente, obedientemente como currais eleitorais. Embora se auto proclamasse República os interesses da nação eram pouco considerados, pois se constituía num país de privilégios, destinados apenas a uma parcela da população. Se dizia laico, porém sofria forte influência de grupos ditos religiosos, que de religiosos não tinham nada, pois não religava ninguém a nada ou a coisa alguma, tampouco seguia os ensinamentos daquele a quem dizia seguir. Eram movidos pela ganancia do dinheiro e pela sede de poder. Preconceito e intolerância eram a sua marca. Cantava aos quatro cantos seu compromisso com a liberdade, mas não era bem assim, tinha muita gente, mas, muita gente mesmo, aprisionadas por grupos de criminosos e de para militares. Muita gente aprisionada pelos grilhões da miséria e do abandono, e vez por outra até, alguém submetido à trabalho escravo. Durante um bom tempo, optou por priorizar diminuir as desigualdades. Dizem até que conseguiram lograr êxito. Mas o que se viu depois, é que setores comprometidos com uma coisa chamada “mercado financeiro”, avançavam vorazmente no sentido de retornar a velha prioridade, a de sempre: favorecimento às demandas da classe dominante e desse tal de mercado!!! A República era constituída de Estados e Municípios, cujo governantes também eram escolhidos através de eleições, razão pela qual, estados diferentes tinham governantes de diferentes partidos. Essa questão dos partidos era muito esquisita: se alguém se ausentasse de Escandalópolis por um tempo e ficasse sem notícias, ao voltar, não entenderia nada. Partidos que defendiam ardorosamente uma causa, já se encontravam na defesa da causa oposta. E assim por diante... Mudavam de programas como quem “muda de camisa”, expressão muito usado no local. Nos diferentes estados e cidades, a relação com a sociedade era de cumplicidade com quem mais tinha, e de descaso com quem tinha pouco. Seus projetos se destinavam principalmente para as classes média e alta, tinham um temor incrível em desagradar estes dois grupos. E, embora alardeassem durante o processo eleitoral, com toda ênfase do mundo, projetos voltados aos mais carentes na área de educação, saúde e saneamento, uma vez eleitos, padeciam de uma amnésia sem igual. Para resolver suas mazelas, muitas das vezes, procurava escondê-las dos olhos dos outros, jogando-as para locais distantes dos centros urbanos. Mantinham sob seu controle uma polícia altamente militarizada e com uma capacidade incomum de atingir os mais pobres e apartados da sociedade. Adoravam conversar com os profissionais responsáveis pela educação de seus filhos e netos com ajuda de cassetetes, balas de borracha e Spray de pimenta. E distinguia a estes, um salário de fazer chorar, mesmo sem usar pimenta. De igual forma com os profissionais da área da saúde, da cultura, enfim das áreas afim. Gostavam mesmo é da turma dos impostos, da fiscalização... Lá a moda era os escândalos. Um a cada dia. Parecia até substituição de jogadores: sai um e entra outro. Às vezes me vejo pensando se não seria para encobrir o anterior. Escândalos não faltavam pois se faltassem, logo cuidavam de um grampo telefônico, mesmo sem autorização judicial. Acusavam, mandavam prender. Quando erravam, pediam desculpas, e tudo bem... A grande imprensa ditava o jogo. Selecionava o escândalo da vez e direcionava a quem queria atingir. Conseguiam e não se sabe como, vazamentos de sessões secretas, e só quando as acusações eram dirigidas a quem os interessava. Escolhia também o tema que queria ver valer, usando de tudo o que tinha à mão para vê-lo aprovado nas instâncias necessárias. Criava um herói e o transformava em vilão num piscar de olhos, da mesma foram que vilanizava o simples cidadão, pelo simples motivo de não ter a sua concordância, ou mesmo simpatia. Criminalizava o pobre, o negro, e principalmente, aqueles que se encontravam à margem, por força e ações da própria sociedade. Crianças pretas e pobres nas ruas, tinham que ser recolhidas pois achavam-nas um potencial risco às “pessoas de bem”. Mostravam, repetiam e insistiam em cenas que chocavam a qualquer pessoa, como forma de moldar o pensamento e o imaginário social. Notícias boas só para quem prezava, da mesma forma as ruins, as dirigia apenas a quem escolhia!!! Como em contendas de artes marciais, tipo MMA, promovia verdadeiras dissenções em grupos de amigos e no seio das famílias. A TV que foi notabilizada no país, e fora dele, pela qualidade de suas novelas, não mais se interessavam por elas, pois havia algo mais importante e emocionante, o escândalo. E o que mais a interessava, noticiava, “ré -noticiava”, esquentava e, “ré – esquentava”. “Emocionante ver de novo” !!! Impressionante como havia defensores da moral, do bons costumes, da família, do uso decente da coisa pública... e por aí vai. Era impressionante como se deparava com esses impolutos cidadãos, em todo canto e a toda hora: era no parlamento, nas reuniões sociais, nas chamadas mídias virtuais... Mais uma vez me perguntava: será que todos eles se sustentariam com um pequeno zoom em suas vidas políticas, empresariais e privadas? A cada dia um “Dejá Vu” e à noite seguinte, um “Jamais Vu”!

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sejamos rápidos, mas sem pressa...

Ultimamente algumas coisas têm me chamado a atenção e inclusive me preocupado. A pressa em elucidar crimes, acidentes, etc....E, a utilização destes eventos como justificativa imediata para consecução de ações, atitudes e até mudanças em nossa legislação. A investigação criteriosa, responsável e detalhada, dá lugar, como que reativamente, a uma resposta, seja ela qual for. A impressão que se tem, é que se não se responde de imediato é incompetente, desidioso, simplesmente incapaz. Penso que o mundo virtual que nos imprimiu uma velocidade absurda, avança sobre o mundo real e com isso o que importa e a “resposta”, mesmo que não se faça nada a posteriori. Os exemplos se sucedem com igual velocidade: piloto suicida, “alemão de São Conrado, ciclista assassinado na Lagoa...e por aí vai. Não falarei do mundo da política para não suscitar paixões! Em razão disso, pensamentos mágicos e soluções mágicas... Pegarei como exemplo a história do adolescente que teria esfaqueado e assassinado um ciclista na Lagoa Rodrigo de Freitas, violência abominável e vulgarizada por um dia a dia, onde a violência passa a ser próxima a cada um de nós, classe rica, média ou pobre. Cada uma com o mesmo desfecho, a morte, porém com características e repercussão absolutamente diferentes. Um exemplo que poderia ser inúmeros, pois na imensa maioria das vezes, mudam apenas os nomes, a história é a mesma. Uma criança abandonada pelo pai aos 2 anos de idade, deixada às vicissitudes da rua, graças à incúria da mãe que chegou a ser indiciada por abandono de menor e que por sua vez abandonou, ou foi abandonado pela escola, não chegando a concluir o sexto ano. Uma vida estupidamente ceifada e outra, sem família e sem educação, que sequer chegou a “existir”! Espantoso como esse crime não comove, não se vê, nem ao longe qualquer indignação, salvo de uma minoria de abnegados militantes. Espantoso como a sociedade convive com isso, se move paroxisticamente ao sabor dos tristes e lamentáveis eventos, com mais ou menos intensidade de acordo com a classe da vítima. E mais, como os arremedos de atenção apresentados pelos diferentes níveis de governos são inócuos, insuficientes e ineficazes. De certo alguns dirão: “Mas não são todas as crianças que passam por situação semelhante que enveredam para o mundo do crime”, digo eu, graças a Deus, sim, a Deus mesmo, que não! Essa mesma criança teria aprendido o que nas ruas da comunidade em que vivia? Nessas mesmas comunidades onde o poder público, e não uma, duas ou dez vezes, já entra aos tiros, em confronto com organizações criminosas. Onde se mata e se morre, concreto e simbolicamente. Agora aproveita-se do triste episódio, tal qual abutre frente à carne morta, como mote de campanha para que se diminua a maioridade penal. Mesmo a contragosto da ex-esposa da vítima que já se pronunciou a respeito. Imaginem que se a essa criança, é oferecido sair dali para um outro espaço onde, como se diz costumeiramente, é o lugar da expertise do crime, uma espécie de pós graduação... o que se esperar? E nesse exato momento lembro-me de um querido amigo que costumava dizer: “Gosto das coisas rápidas, mas sem pressa”!

segunda-feira, 16 de março de 2015

Reflexão sobre as recentes manifestações.

Reflexão sobre as últimas manifestações Ao fazer essa reflexão, quero deixar bastante claro que é apenas uma reflexão que fiz a partir da observação das recentes manifestações em vários canais de televisão. Não participei de nenhuma delas e tentarei ser, à medida do possível, imparcial. Desde já, gostaria ainda de declarar que não pretendo de forma alguma suscitar polêmicas e agradeço a compreensão de quantos lerem, e de suas contribuições. Inconteste que as manifestações de domingo levaram bem mais gente às ruas que as de sexta-feira. Ambas deram o tom da maturidade e da responsabilidade, em sua maioria. De parabéns à democracia. Vivemos momentos de muitas dificuldades, não há porque negar, e os espíritos precisam ser desarmados. Interesses justos e não tão justos colocaram amigos em desavenças e até familiares se estremecendo. E isso já não é democracia. O ódio não pode vencer a razão, não pode aniquilar o respeito, tampouco obscurecer o carinho. Às vezes uma “pequena chacota” vem carregada de tamanha virulência que acaba por agredir pessoas. Quero deixar muito claro que aqui não estou optando por lado. Venha de onde vier. Manifestações de apoio ou contra faz parte do jogo. Palavras de ordem mobilizam as pessoas e animam o percurso. Cartazes expressam pensamentos. Tudo bem, sejam todos bem vindos. A democracia não precisa ser adjetivada mas substantivamente impõe limites e na falta destes, o obscurantismo e a truculência podem vicejar. Não estou me referindo ao “Fora Dilma” tampouco à exaltação ao “Impeachment”! Estou me referindo claramente a cartazes pedindo volta do intervencionismo militar. Não é democrático, e porquê? Pedir o fim da democracia não pode ser democrático, é elementar. Não bastasse as lembranças de um passado não muito distante. A uma faixa negando o Supremo Tribunal Federal, não é democrático, o STF é uma instituição garantidora dos princípios constitucionais e negá-lo não é democrático. A utilização do emblema que sustentou um regime odioso, onde se praticou os atos de maior perversidade na história do ser humano, a cruz suástica de triste memória. Em qualquer lugar do mundo, até na própria Alemanha não se admite a convivência com tal ideologia. Não, não é democrático. Dirão que foi um contingente mínimo de pessoas, acredito, mas deveria ser isolado e expulso da manifestação, como o fizeram com um senhor que defendia a Petrobras na praia de Copacabana; ele saiu e tudo bem, a manifestação seguiu seu rumo. Não o fizeram, conviveram e isso reflete uma atitude no mínimo oportunista, e por que não dizer, de cumplicidade. Não pode haver o mínimo de complacência com quem advoga o nazismo. Não, não é democrático. Por fim acho que é já é mais que hora de se pensar na nação, das forças políticas, governo e oposição demonstrarem maturidade e grandeza. Sentem-se, conversem, não se acovardem, pois permanecer nessa verdadeira “Roleta Russa” na cabeça do povo é covardia, e deem início a um movo momento para o nosso Brasil. O “Quanto pior melhor” não é melhor, é injusto. E a “Turrice”, é o bálsamo dos medíocres!!!

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Mundo Virtual

O mundo virtual Me vi analisando a influência da chamada mídia virtual no cotidiano das pessoas. A abundância de informações vindas de tudo que é canto, à tempo e à hora, como diziam os antigos, antecedem sempre ao velho e viciante jornal, onde suas folhas passeiam nas mãos curiosas de seus leitores. Interessante como ali, as mentiras tornam-se verdades, e as verdades tornam-se mentiras. As versões assumem o lugar dos fatos, e brilham com uma riqueza de detalhes impressionante, ao mesmo tempo que tem em si, uma memória gigantesca, formidável, e permite que busquemos sempre que, em dúvida, a verdade dos fatos. Na política, nos esportes, nas artes, aqui e acolá, encontramos debates e contradições que nos forçam a ir em busca de uma memória mais isenta. A distância se faz próxima e a proximidade, distante. O não confronto físico, olhos nos olhos, permite que as palavras escritas saiam sem o zelo, a preocupação, em não agredir ou mesmo chatear o interlocutor, o que às vezes, traz um custo agregado das relações: um estremecimento, e não raro, rompimentos. O que entendo como agravante é que às vezes isto se dá a partir de notícias fabricadas a partir de premissas falsas, que, pela abundância de compartilhamentos assume o lugar da verdade. Promessas vazias, acusações sem fundamentos e avaliações desprovidas de nexo vociferam a cada minuto misturando-se à propostas exequíveis, afirmações coerentes e reflexões adequadas. Acusa-se sem provas, agride-se sem motivos e enaltece-se sem razão. Em fração de segundos a admiração torna-se desconfiança. O carinho vira rusga, a amizade despeito, e o respeito perde-se ao tempo. E isso não tem cor, tampouco partido. Pratica comum à todos. Doutro lado, vivemos a possibilidade de uma incomensurável riqueza bem pertinho a nós, e novamente, à tempo e à hora. Encontramo-nos com familiares e amigos à hora que bem quisermos, matando as saudades e regando nosso bem querer. No universo da cultura: A Gastronomia, coloca-nos à mesa com apetitosos e maravilhosos pratos. Museus de todo canto do mundo nos trazem à obras de famosos, costumes milenares e belezas invulgares. Música para todos os gostos, da clássica à eletrônica dão repouso ao nosso espírito. A Arquitetura apresentando-nos as belezas dos traços dos grandes mestres do desenho, suas conceitos e composições. O universo das Artes Plásticas com seus grandes pintores e escultores. Nas Artes Cênicas com possibilidade de acesso aos clássicos do cinema mundial, bem como do Teatro. E tanta coisa mais... Viagens esplendorosas podem ser feitas sem que saiamos de casa. Podemos viajar do Brasil ao Japão em um piscar de olhos! Dúvidas no campo da medicina, são buscadas e equacionadas, num momento em que os profissionais se afastam cada vez mais do doente, na busca da doença, e, praticamente dirige sua atenção aos que antigamente chamávamos de exames subsidiários, complementares. As imagens tomam o lugar da verdadeira imagem, o doente. Prescrições medicamentosas são confrontadas com a pessoa do doente, sua história, seu passado, muitas vezes desvalorizados por ocasião de consulta médica. Enfim, a riqueza da Internet, traduz a riqueza de nossa curiosidade e a leveza de nosso espírito!